Plantas e ervas medicinais da Amazônia um mercado em expansão

terça-feira, 21 de setembro de 2010


 O interesse pelas ervas e plantas da Amazônia com aplicação nas áreas medicinais e de cosméticos tem aumentado cada vez mais. A exploração comercial dessas plantas apresenta perspectivas cada vez mais promissoras de se tornar uma atividade econômica rentável para o Amazonas.

Para o chefe da área de Botânica Econômica do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), o pesquisador peruano Juan Revilla Cordenas, doutor em Ciências Biológicas, o segmento tem tudo para crescer e se tornar uma atividade econômica lucrativa para o Estado desde que se profissionalize. Ele ressalta que o grande desafio é gerar emprego e renda para o ribeirinho, o caboclo, melhorando a qualidade de vida das pessoas que lidam diretamente com a coleta, armazenamento e venda das plantas medicinais.

O pesquisador afirma que o Inpa não é contra a tecnologia, apenas pretende que o crescimento da atividade de beneficiamento de ervas medicinais contribua para a melhoria de vida da população do Amazonas. "Temos que praticar um extrativismo planejado. Não é a descoberta de princípios ativos de remédios - grande interesse da indústria -, que vai ajudar", analisa Juan.

Segundo o pesquisador, os únicos beneficiados com a descoberta de novos princípios ativos são as poderosas multinacionais que fabricam os medicamentos. O caboclo que repassa seu conhecimento sobre os poderes medicinais das plantas não tem nenhum ganho.

Juan ressalta que muito já se pesquisou e produziu sobre o potencial das plantas medicinais da Amazônia. Ele informa que cerca de 300 plantas amazônicas, nativas e introduzidas, catalogadas pelo Inpa, têm potencial para as áreas medicinal, fitoterápica, aromática e de cosméticos. "O que falta é operacionalizar a produção local de medicamentos e cosméticos com a utilização de plantas amazônicas", afirma Juan. O pesquisador revela que é difícil fazer o caboclo entender que aquela planta que ele usa para curar uma doença tem valor comercial.

Juan aborda a operacionalização da atividade no livro "Plantas da Amazônia - Oportunidades Econômicas e Sustentáveis", publicado pelo Serviço Nacional de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Amazonas (Sebrae/AM), em parceria com o Inpa. O livro foi elaborado com a finalidade de disseminar a utilização das plantas da Amazônia, adequando estudos e pesquisas para a comercialização mercadológica.

O projeto para a elaboração do livro teve início no "Seminário Internacional de Plantas Medicinais - Oportunidades Econômicas e Sustentáveis", realizado em maio do ano 2000. O evento teve finalidade de popularizar pesquisas e tornar acessíveis conhecimentos sobre os mais variados produtos, como os derivados do camu-camu, a importância dos frutos do palmito, o perfil nutricional e a utilização da pupunha, a produção de sabonete de murumuru, entre outros.

Já esgotado, o livro possui catalogadas as potencialidades comerciais de 72 espécies de plantas da Amazônia, nativas e introduzidas, que têm aplicação garantida nas áreas medicinal e de cosméticos. Atinge um público de empreendedores da região porque mostra espécies que já alcançaram uma considerável fatia do mercado local, nacional e internacional. A segunda edição deverá estar pronta no segundo semestre deste ano e ficará sob responsabilidade do Inpa. Com o objetivo de facilitar a compreensão, as espécies foram divididas nos seguintes grupos: fitoterápicos, cosméticos, repelentes, inseticidas, complementos alimentares, corantes e fibras. E para retratar de uma forma clara cada espécie difundida, a apresentação do portfólio foi separada em três ramos: científico, tecnológico e mercadológico.

No primeiro, são apresentadas as transcrições das pesquisas já feitas sobre as espécies. O segundo ensina como manusear essas espécies de forma sustentável, sem agredir ou causar desequilíbrios ambientais. No ramo mercadológico, são descritos os preços do quilo das plantas em suas diferentes apresentações (casca, pó).

Uma das grandes contribuições do livro é estimular a inserção de produtos regionais no mercado nacional e internacional, através de empresas potencialmente exportadoras. Além disso, fornecer subsídios para os empreendimentos de incubação na Amazônia, a exemplo do Centro de Incubação e Desenvolvimento Empresarial (Cide).


Para exemplificar suas orientações, Juan decidiu partir para a experiência prática, implantando um projeto em Manaquiri (a 65 quilômetros de Manaus) que estimula o plantio e a estocagem do óleo de três espécies não perecíveis: andiroba, castanha da amazônia e castanha sapucaia. "O objetivo é atingir este ano cinco mil litros de óleo", revela o pesquisador. O agricultor vai vender o óleo para a prefeitura, que deverá revendê-lo.

Cada litro de óleo foi estipulado em R$ 10. Antes de efetuar a venda para a prefeitura, cada agricultor terá seu produto analisado pelos laboratórios do Inpa para garantir a qualidade. Os recursos do projeto são do Sebrae/AM, Banco do Brasil, Inpa e prefeitura de Manaquiri.

Fonte: Jornal do Comércio - Dirigido - 06-06-01

25 mil espécies mundialmente conhecidas

Unha-de-gato, alfavaca, muirapuama, catuaba, cubiu, entre outras espécies amazônicas já são bem mais conhecidas em âmbito internacional do que os próprios amazonenses poderiam supor. De acordo com dados das instituições de pesquisa da região, cerca de cinco mil, dentre as 25 mil espécies existentes na Amazônia Brasileira e Internacional, já estão catalogadas e com suas propriedades conhecidas.

De acordo com o pesquisador Juan Revilla, que também é especialista em Inventário Florístico e Fitomassa pelo Instituto Max Planck da Alemanha, a muirapuama, uma planta popular na região por seus efeitos positivos em casos de impotência, atuando como um afrodisíaco natural e eficaz, está catalogada na farmacopéia inglesa desde 1900. Pare ele, o Brasil está atrasado um século na exploração desta espécie. A planta é encontrada no Amazonas, Pará e nas três Guianas.

Produção de cosméticos aproveita capacidade da natureza

O Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Amazonas (Sebrae/AM) afirma, no estudo "Cosméticos à base de ervas naturais" da série Perfis Empresariais, que o setor é seguro e crescente, tanto no mercado interno quanto internacional. Afirma que não é tão arriscado iniciar uma pequena empresa de cosméticos à base de ervas naturais, utilizando-se da enorme biodiversidade do Amazonas.

Os técnicos do Sebrae/AM informam que os riscos do negócio são de grau médio, considerando a baixa escala produtiva de ervas existentes no Estado. Além desse fator, a preferência dos produtores é a venda nos mercados nacional e internacional.

Os riscos podem ser reduzidos se o empresário associar ao empreendimento industrial a atividade agrícola própria. De acordo com o estudo, dependendo da erva plantada, pode-se obter os óleos essenciais, possuidores do princípio ativo, tão desejado pela indústria cosmética e farmacêutica.

A produção de cosméticos é uma atividade que vem sendo praticada ao longo da história da humanidade. Mas segundo os técnicos do Sebrae/AM, a indústria está redescobrindo que o segredo está em saber aproveitar a capacidade criadora e transformadora do ambiente natural.

O mercado das regiões mais desenvolvidas, de culturas fortemente influenciadas pela onda naturalista que invadiu o mundo a partir dos anos 70, está recusando os aromas artificiais, os conservantes, os produtos sintéticos e as experiências com animais.

Segundo o estudo, na área da cosmetologia natural surgiram empresas que não oferecem remédios milagrosos. Essas organizações sabem que o cuidado da pele não possui objetivos puramente estéticos, preocupando-se em acentuar a beleza e manter a saúde.

O suprimento de insumos de uma empresa de cosméticos, de acordo com os técnicos do Sebrae/AM, pode ser feito no mercado local e no nacional, destacadamente em São Paulo, onde são obtidos os materiais secundários e de embalagem. No mercado local, podem ser encontrados os extratos, óleos e essências regionais. O estudo afirma que a aquisição de matéria-prima não representa nenhum entrave, pois existe uma oferta abundante, apesar de não organizada.

O estudo revela que foi identificada a existência de produtores que começam a plantar pequenas roças de ervas, destacando-se os municípios do Careiro, Cacau-Pirera e Envira. As ervas medicinais e aromáticas mais utilizadas em cosméticos no Brasil são: camomila, sálvia, aloe vera, verbena, alteia, prímula, angélica, alfazema, patchuli, jamborandi, babosa, menta, alecrim, jojoba, amor crescido, bonjuá, calêndula, arnica e hamamelis. Uma parte delas é de fácil produção na região da Amazônia. Os técnicos do Sebrae/AM aconselham os empreendedores a manter uma produção própria de ervas para não ficar totalmente dependente dos produtores.

O estudo adverte que como os produtos à base de ervas, flores, frutos e raízes são de custos mais elevados em razão das exigências dos principais mercados compradores, seus preços tendem a ser também elevados.

0 comentários: